Ô de casa, tem farinha? Ô se tem, do pantanal à caatinga, da floresta à vereda. Do índio, do quilombola. Branca, amarela, grossa, fina, doce, amarga. Pode clicar, a Casa de Farinha é sua! Em cada um dos quartos desta casa sinta, ouça, veja… artistas, farinheiros e farinheiras num ritual ancestral e futurístico de interação com esta raiz mágica conhecida como “rainha do Brasil”.

Pode chegar! Sinta-se em casa nesta produção alimentar repleta de arte da natureza e de homens e mulheres fazedores de tradição e sustento. Procure diversidades emaranhadas por um movimento único que vai da roça ao prato. Entre ritmos e cores das farinhadas, explodem sabores que nos encantam e matam as fomes do Brasil. Já sentem o cheiro da farinha quentinha saindo do forno? Ao nossos hóspedes, um bom apetite!

O Mapa Slow Food Brasil das Farinhas de Mandioca do Brasil apresenta comunidades da rede Slow Food Brasil, além de farinhas que possuem indicação geográfica e ligadas à sistemas agrícolas tradicionais registrados como patrimônio cultural do Brasil pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Ele simboliza o pontapé inicial do sonho coletivo da rede Slow Food Brasil de mapear os territórios da mandiocultura, seus sabores e histórias

Há um método específico para o preparo da farinha Bragantina. O primeiro passo é deixar a mandioca de molho durante 4 a 5 dias. No último dia a mandioca é retirada da água, descascada e, após isso, colocada de molho por mais 24 horas em água limpa. Após essas 24 horas, a mandioca é retirada da água e triturada, para então ser colocada no tipiti (um utensílio indígena feito de palha, que funciona como uma prensa, para a retirada do tucupi, o molho da tapioca). Depois disso teremos a massa da mandioca, que é colocada no forno já aquecido para ser torrada e dar origem à farinha tão conhecida.

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A produção da farinha acontece uma vez por ano, reunindo muitas famílias na aldeia Marcação, onde está localizada a única unidade de beneficiamento totalmente mecanizada no Território Indígena, facilitando a produção de farinha de muitas famílias, inclusive de outras aldeias. Durante as “farinhadas” que acontecem nos meses de setembro à novembro, as manivas – a rama da mandioca – são guardadas na sombra ou são enterradas, na espera das chuvas para o seu cultivo e a esperança de uma boa colheita, que acontece aproximadamente um ano depois. As manivas têm um período curto de conservação, sendo necessário o seu plantio em um intervalo de seis meses após a colheita da mandioca, que com a falta das chuvas, se perdem facilmente.

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A farinha de Uarini é conhecida como farinha ovinha por ser uma bolinha, tal como ovinhas de peixe. Há quem diga que é “o caviar das farinhas”. A farinha do Uarini é um acompanhamento indispensável na mesa dos amazonenses, principalmente quando o assunto é peixe, seja frito, assado ou cozido. Mas, muito longe das terras amazonenses, a farinha vem despertando interesse e atraindo atenção de renomados chefs da gastronomia internacional. Todo o processo artesanal de fabricação da farinha de Uarini vem sendo mantido há anos pelos produtores da região.

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O cultivo da mandioca, emblemático do Brasil e parte integrante de sua história, ocupa uma posição de destaque no Rio Negro. Embora existam variações nas formas de manejar e de pensar a prática agrícola entre os povos da região, há uma práxis compartilhada. Desse papel central derivam formas de manejar o espaço e as demais plantas cultivadas, o desenvolvimento de técnicas e de artefatos específicos para seu plantio e processamento, saberes e modos de fazer específicos associados à alimentação, além de normas, conceitos, práticas e relações sociais, histórias, relatos e mitos. A mandioca constitui o foco desse sistema pela diversidade de espécies e variedades cultivadas, pela amplitude do espaço ocupado, por suas formas dinâmicas de manejo e por seu papel na alimentação. Em torno do cultivo da maniva gravitam outros conjuntos de plantas cultivadas que integram a diversidade agrícola “ordinária”, cuja identificação e denominação repousam sobre critérios de tipo sensorial. A diversidade das formas de produzir ultrapassa o domínio dos fatos técnicos, inscrevendo-se como parte da vida social e cultural das comunidades e expressa uma concepção do mundo e da vida em grupo.

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A produção desta famosa farinha de mandioca tem origem no encontro entre o cultivo da mandioca introduzido pelas etnias indígenas do Acre com técnicas de fabricação da farinha introduzidas por famílias de imigrantes nordestinos, no início do século XX. Esta migração para o Acre foi marcada por pessoas que atuaram como seringueiros, aproveitando do ciclo da borracha. Com a queda do preço da borracha e visando preservar as terras, foram desenvolvidas e consolidadas outras culturas na região, como a da farinha de mandioca.Atualmente, no estado do Acre, a farinha de mandioca é processada de forma artesanal, utilizando matéria-prima e mão-de-obra provenientes da agricultura familiar. A qualidade da farinha e a segurança do alimento são destaques, fruto do trabalho dos produtores juntamente com as entidades de apoio.

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A farinha de copioba é um tipo de farinha de mandioca artesanal caracterizada pela crocância e coloração amarelada, produzida tradicionalmente no Vale do Copioba, região do Recôncavo Baiano – Bahia.Desde o início do século XIX, a região do Recôncavo Baiano é importante produtora de farinha de mandioca. Assim, o município de Nazaré ficou conhecido como “Nazaré das Farinhas”, devido à qualidade de sua farinha e a ser o local de escoamento desse produto, em função do porto e ferrovia que existiam na cidade. O Rio Jaguaripe é o que melhor demarca a localidade denominada como Copioba. Dessa região, que está delimitada pela margem esquerda do Rio, fazem parte atualmente os municípios de Nazaré, Muniz Ferreira, São Felipe e Maragogipe. 

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É uma farinha de mandioca desenvolvida unicamente pela comunidade quilombola Furnas do Dionísio, em Jaguari, região a 43 km de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O grupo povoa a região desde o final do século XIX. Furnas está em uma área em formato de ferradura em local estratégico, na Serra do Maracaju. O modo de preparo desta farinha é única em todo o estado, mas corre risco de extinção com a migração dos filhos de descendentes quilombolas para a capital. Poucas pessoas se dedicam ao preparo dessa farinha, comercializada em feiras locais, inclusive no Mercado Municipal.

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Há em torno de 100 anos, na região onde ocorreu a histórica Guerra do Paraguai, houve a chegada em massa de retirantes nordestinos. Como as terras eram baratas no período, muitas famílias numerosas construíram casas de farinha e passaram a comercializar o produto na região de maneira artesanal. A produção da farinha tem importância cultural além de econômica: no mês de maio, mês de aniversário do município, é realizada a Festa da Farinha. O evento já faz parte do calendário da cidade e também atrai chefs de cozinha e artistas nacionais. O produto é uma verdadeira vitrine da região e a farinha é chamada pelos sulmatogrossenses de “farinha de Anastácio”.

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 A maioria das famílias está ligada à Associação Quilombo Kalunga (AQK) e cerca de 30 mulheres estão envolvidas na Diretoria da Associação de Mulheres do Quilombo Kalunga do Município de Monte Alegre (AMQKMA). A comunidade conta com aproximadamente 60 famílias, em que todas são produtoras de boa parte dos alimentos que consomem. A maioria produz para autoconsumo, mas muitas também comercializam produtos. O Quilombo Kalunga é considerado o maior do Brasil, tendo sido reconhecido oficialmente em 1991 pelo governo do Estado de Goiás, como Sítio Histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga, parte essencial do Patrimônio histórico e cultural brasileiro, localizado na Região Centro Oeste, em Goiás. O quilombo ainda hoje apresenta poucas mudanças desde quando foi iniciado, há mais de duzentos anos.

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Nos quilombos do Vale do Ribeira, a mandioca é, além de arroz e feijão, base da dieta alimentar cotidiana. As pessoas que se dedicam ao trabalham agrícola plantam rama em algum setor de sua roça. Além de ser consumida cozida e frita, a mandioca pode ser processada de diversas maneiras, sendo um ingrediente importante da culinária quilombola. Com a mandioca se faz farinha, biju, coruja, pressada, bolo, cuscuz de puva, além de ser ingrediente secundário de outras receitas como o cuscuz de arroz. Nas 16 comunidades participantes do inventário ainda há plantação de mandioca, mas nem todas ainda têm tráficos de farinha em funcionamento. Segundo relatos coletados, o processamento da mandioca é um tarefa muito antiga e não faltava farinha nas comunidades. (Inventário Cultural das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira).

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A farinha polvilhada produzida nos engenhos de Santa Catarina apresenta cor branca, textura fina e macia, podendo ter sabor mais adocicado ou azedo, alguns chegam a dizer que ela “esquenta” na boca. Resultado principalmente das variedades de mandioca utilizadas e da fina peneiração após o forneamento da farinha. Simboliza a troca cultural entre índios e europeus (principalmente açorianos), sendo que os primeiros apresentaram a cultura da mandioca e os modos rústicos de elaborar a farinha, enquanto os segundos aperfeiçoaram a seleção de variedades, os maquinários e técnicas utilizadas.

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A mostra sonora transporta o ambiente destes espaços de trabalho e prosa para os seus dispositivos. De porta em porta  adentramos paisagens sonoras, histórias e memórias. Nesta expedição, ruídos, cantos, palavras e vozes remetem a saberes tradicionais das Fortalezas Slow Food da Farinha Bragantina (PA), Engenhos de Farinha Polvilhada de Santa Catarina e Farinha de Mandioca Kiriri (BA), além da farinha de Copioba (BA), que  integra a Arca do Gosto no Brasil. 

Sons da Farinha “Entre nas casas e Engenhos de Farinha a partir de sua ambientação sonora, reconheça vozes e ruídos do trabalho, das rodas de descascar ao ralador manual e elétrico,da prensa à lavagem da mandioca nos coxos, o universo rural e também as cantorias para celebrar o encontro e espantar o cansaço.”

Farinha Bragantina “Pego a mandioca, ponho pra ralar, tiro o tucupi e o tacacá…”Viagem ao Pará farinheiro no ritmo do carimbó de raiz das Sereias do Mar, agricultoras das casas de farinha  e artistas da terra, da mesa e da música.

 Farinha Kiriri “Entre e conheça a história e tradição da Farinha de mandioca Kiriri a partir do olhar contemporâneo de Reinaldo, Advaldo e Fabiana, indígenas que vivem na aldeia Kiriri em Banzaê, estado da Bahia e atuam pela salvaguarda desta cultura alimentar.”

Farinha Polvilhada de Santa Catarina “Sente nesta roda de raspagem junto com o pessoal da Fortaleza Slow Food dos Engenhos de Farinha e da Rede Catarinense de Engenhos de Farinha e saiba porque estes Engenhos estão sendo reconhecidos como importante patrimônio cultural em nível regional e nacional.  

Farinha de Copioba: “Sente nesta casa pra prosear com o pessoal da chamada  “Nazaré das Farinhas”no famoso vale da serra da copioba, região do recôncavo baiano. Enquanto isto, uma farinha quentinha vai saindo do forno, muito conhecida por sua crocância e coloração o que em breve lhe trará a certificação de indicação geográfica.”

A mostra fotográfica traz ao visitante do Terra Madre Brasil a força e beleza dos  territórios das farinhas de mandioca do país por meio de diferentes olhares  marcados pela imersão de oito artistas da imagem com estes universos e alimentos, suas estéticas, gentes e modos de fazer que atravessam milênios.

A mostra audiovisual traz conteúdos criados especialmente para este espaço neste período de isolamento social. E vem com o desejo de conduzir o visitante pelas diversas temáticas enveredadas a partir desta cultura alimentar muito ligada ao nosso passado e garantia de futuro. Só existe por meio da colaboração de diversos mandioqueiros e mandioqueiras, entidades, artistas, comunidades que compartilham seus acervos, imagens, vozes e sons. Pretende também homenagear farinheiros e farinheiras que sustentam este patrimônio cultural e alimentar através dos séculos,  e em especial as comunidades que fazem parte da rede Slow Food Brasil e os membros do GT Mandioca.

Casa de farinha (videoarte de Sandra Alves [360º, 3’56″‘, pb, 2018’) 
Comunidade Quilombola do Tartarugueiro | Ilha do Marajó | Amazônia

Farinha e filme (doc, 13’20”, digital, cor, 2020)
sinopse: crianças experienciam imersão capaz de produzir fome de viver.

Feituras (doc. 19’30”, digital, cor/pb, 2020)
sinopse: a ancestralidade indígena no modo de existir dos mandioqueiros e mandioqueiras do brasil.

Mandioquistas, uni-vos! (doc. 9’47”, digital, cor/pb, 2020)
sinopse: rede de afetos, partilhas e de “bons dias” movimenta e trama o grupo GT Mandioca, do Slow Food Brasil.

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