Agricultores familiares e camponeses, povos originários, comunidades tradicionais, educadores e pesquisadores, organizações da sociedade civil, cozinheiros e formadores de opinião, integraram debates relevantes em prol da biodiversidade e da cultura alimentar brasileira
A versão online do grande encontro que celebra a cultura alimentar era um grande desafio à rede Slow Food Brasil, acostumada a difundir o contato e as trocas entre produtores e consumidores. Mas o engajamento do público superou as barreiras geográficas e proporcionou calor humano nas Rodas de Conversa, Diálogos, Oficinas do Gosto e Apresentações Artísticas que atingiram um público estimado, até o momento, de mais de 200 mil pessoas, de todos os cantos do país, durante os seis dias de evento.
“A generosidade dos participantes em compartilhar conhecimentos, a qualidade dos debates, a participação do público de diversos cantos do Brasil, representando diversos segmentos da sociedade civil, têm superado nossas expectativas. A profundidade da troca de conhecimento e a produção de conteúdos que estão sendo disseminados, nacionalmente e internacionalmente, para além do “ao vivo”, representa um patrimônio inestimável para a formação de base da rede Slow Food Brasil e das organizações parceiras”, avalia Valentina Bianco, da coordenação da Associação Slow Food do Brasil, organização responsável pela realização do Terra Madre Brasil 2020.
Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, a programação especial do dia 20 de novembro contou com participações representativas da cultura afrobrasileira, sobretudo representação das mulheres
Um dos encontros que comoveu o público foi o diálogo sobre a comida de terreiro, que reuniu Vanda Jovelino, quilombola da comunidade do Kaonge, da Bacia do Iguape, e Ialorixá do terreiro de Umbanda ‘21 Aldeia de Mar e Terra’; Solange Borges, do projeto de turismo cultural e base agroecológica Culinária de Terreiro; e o chef de cozinha e especialista em estudos culturais, histórias e linguagens, Elmo Alves Silva. O diálogo contou com a moderação de Anderson Carvalho, pesquisador social, integrante do Slow Food e porta-voz da Comunidade Slow Food Alguidá Salvador.
“Nessa data tão importante para todos nós, povos negros, homens e mulheres pretas e pretos, meu coração se enche de felicidade. Terreiro é lugar de amor, é lugar de família, é lugar de respeito, é lugar de união e de assistência. Quando eu vejo os pilares do Slow Food, o alimento limpo, bom e justo, é o que nós praticamos no nosso cotidiano. A comida de terreiro é feita em perfeita harmonia com o meio ambiente, é uma comida que respeita a sazonalidade, respeita a terra e respeita as águas, é um alimento consciente” destacou o chef e pesquisador Elmo Alves Silva.
Durante o “Diálogos do Terra Madre Brasil – Outros Caminhos Possíveis”, Tiganá Santana associou a figura do caracol, figura representativa do Slow Food, e sua ligação com as temporalidades não lineares e como sua figura traz para o momento presente acontecimentos fundamentais na afro diáspora. “O caracol, em língua iorubá o ìgbín, nos remete à demora, demorar-se nos acontecimentos, digerindo-os de fato. […] Seu movimento que nos faz aprender, a sorver pouco a pouco o tempo das coisas.”
A inclusão também se fez presente no Terra Madre Brasil 2020. A empresa Libras em Casa foi a responsável por garantir um maior alcance do público com tradução simultânea em libras. Outro recurso que enriqueceu as transmissões ao vivo foi a facilitação gráfica do grupo Revelando Ideias, que ilustrou de forma criativa os os diálogos entre os participantes. O resultado deste trabalho, com os painéis ilustrativos, será disponibilizado nos canais da rede Slow Food Brasil.
O encontro contou com a correalização do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural/Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (SDR/CAR). A programação integrou o evento internacional Terra Madre – Salone del Gusto 2020, lançado entre os dias 8 e 12 de outubro, e segue por seis meses até abril de 2021, período em que acontece o Congresso Internacional do Slow Food.
Entre os apoiadores estão o Instituto Ibirapitanga, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O encontro contou com a parceria da Sta Julieta Bio, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) – Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), o Instituto Interamericano de de Cooperação para Agricultura (IICA-Brasil), e o Programa Semear Internacional. Teve apoio audiovisual e técnico da Agência Dudes e produção executiva da Pau Viola Entretenimento.
A equipe do Terra Madre Brasil 2020 agradece a todas e a todos os agricultores familiares, camponeses, povos originários e comunidades tradicionais que todos os dias colocam comida da nossa mesa e traduzem em sabores e aromas a cultura alimentar do Brasil. Agradece também os educadores e pesquisadores, organizações da sociedade civil, cozinheiros e formadores de opinião que fizeram deste encontro virtual uma grande oportunidade de troca de conhecimento e de demonstrações de amor e luta em prol da sociobiodiversidade brasileira.